Embora a doença seja conhecida há quase 70 anos, essa foi a primeira vez em que foram observados óbitos relacionados a ela.
Pesquisadores de várias partes do mundo já alertavam para o aumento de casos e o potencial de essa condição causar surtos e epidemias pelos próximos anos (entenda mais a seguir).
Mas quais são as causas da febre oropouche? E quais as formas de diagnóstico, prevenção e tratamento?
1. O que é a febre oropouche?
O Ministério da Saúde informa que a febre oropouche "é uma doença causada por um arbovírus [vírus transmitidos por artrópodes] do gênero Orthobunyavirus, da família Peribunyaviridae".
O vírus em questão é conhecido entre cientistas como Orthobunyavirus oropoucheense, ou pela sigla OROV.
Um artigo publicado por cientistas da Universidade do Kansas, nos EUA, explica que a família Peribunyaviridae figura entre as mais extensas da virologia — já foram descritos pelo menos 30 agentes infecciosos que pertencem a esse grupo.
O estudo ainda aponta que pelo menos cinco vírus dessa família já foram detectados no Brasil. O OROV é um deles.
2. Como é a transmissão da febre oropouche?
O vírus é transmitido pela picada de mosquitos, principalmente da espécie Culicoides paraensis, que é conhecida popularmente como maruim ou mosquito-pólvora.
Outro possível transmissor do agente infeccioso em ambientes urbanos é o Culex quinquefasciatus, chamado comumente de pernilongo ou muriçoca.
Um estudo do Setor de Medicina da Universidade do Texas, nos EUA, destaca que o Culicoides paraensis está espalhado pelas Américas.
Ele já foi identificado do norte dos Estados Unidos, quase na fronteira com o Canadá, até o sul de Argentina e Chile.
O Culicoides paraensis é geralmente encontrado em áreas úmidas de mata e nas proximidades de reservatórios de água.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que, nos ciclos de transmissão observados na natureza, o vírus causador da febre oropouche também foi detectado em primatas não humanos (como macacos-prego) e em bichos-preguiça.
Cientistas também suspeitam que ele possa afetar algumas aves.
Nos ciclos epidêmicos urbanos, que envolvem seres humanos, ainda não foram observados casos de transmissão direta, de uma pessoa para outra.
No entanto, um relatório publicado pelo Ministério da Saúde avalia a possibilidade e os riscos da transmissão vertical, de uma mulher gestante para o bebê em formação no útero.
O texto chama a atenção para uma análise feita em junho de 2024 pelo Instituto Evandro Chagas, em Belém do Pará, que detectou a presença de anticorpos contra o vírus do oropouche em quatro recém-nascidos com microcefalia.
"Essa é uma evidência de que ocorre a transmissão vertical do OROV, porém as limitações do estudo não permitem estabelecer relação causal entre a infecção durante a vida intrauterina e malformações neurológicas nos bebês", pondera o texto.
Uma outra investigação laboratorial realizada nas últimas semanas identificou material genético do vírus causador do oropouche num caso de óbito fetal, que ocorreu com 30 semanas de gestação.
Trechos do agente infeccioso foram encontrados "no sangue do cordão umbilical, na placenta e em diversos órgãos fetais, incluindo tecido cerebral, fígado, rins, pulmões, coração e baço".
Novos trabalhos científicos devem ser publicados nos próximos meses para entender melhor como esse vírus pode afetar o desenvolvimento do bebê durante a gestação.
3. Quais os sintomas da febre oropouche?
As evidências publicadas apontam que a incubação — o tempo entre o vírus entrar no organismo e o surgimento dos primeiros sintomas — varia entre quatro e oito dias.
A partir daí, os sinais da doença são muito parecidos aos de outras arboviroses, como a dengue.
A OMS aponta que os principais sintomas da febre oropouche são:
Febre alta de início repentino;
Dor de cabeça;
Dor atrás dos olhos;
Dureza ou dor nas juntas;
Calafrios;
Náusea;
Vômitos.
Geralmente, esses incômodos se prolongam por um período de cinco a sete dias.
Curiosamente, após a recuperação, cerca de 60% dos acometidos pela febre oropouche sofrem uma recaída.
Ou seja, após cerca de duas semanas do episódio inicial, os sintomas voltam a dar as caras — algumas vezes, eles são ainda mais fortes, como observa o artigo da Universidade do Kansas.
Ainda não está 100% claro se essa recaída tem a ver com alguma questão imunológica do paciente ou se os acometidos sofreram uma reinfecção por circularem em áreas com alta concentração dos mosquitos transmissores do vírus.
4. A febre oropouche é grave? Pode matar?
Os trabalhos científicos publicados até agora sobre a febre oropouche citavam a possibilidade de algumas complicações mais graves.
As principais seriam encefalite e meningite, inflamações do cérebro ou das membranas que recobrem o sistema nervoso, respectivamente.
No entanto, as duas mortes anunciadas pelo Ministério da Saúde na quinta-feira (25/7) são absolutamente inéditas.
"Até o momento, não havia relato na literatura científica mundial sobre a ocorrência de óbito pela doença", confirma o ministério em nota.
Uma outra morte notificada no Estado de Santa Catarina está sob investigação para confirmar se tem algo a ver com a febre oropouche.
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