O sonho de muitos motoristas é transitar por uma via sem precisar parar em nenhum dos semáforos. A “onda verde”, formada pelos sinais de trânsito sincronizados, torna isso possível e agiliza o tráfego nas cidades. Porém, a sincronização dos sinaleiros é um desafio permanente para especialistas e depende de cálculos, avaliações, estudos e planejamento para resultar em mais fluidez.
O fluxo, a velocidade média e o volume diário médio de veículos (VDM) ao longo das horas do dia estão entre os dados utilizados para a programação do plano semafórico, que determina quando o sinal abre para uma via e fecha para a outra. De acordo com o gerente de Produtos da Perkons, empresa especializada em gestão de trânsito, Ricardo Simões, esses registros podem ser obtidos através de câmeras com sensores virtuais ou sensores instalados no pavimento. “A opção pelo uso de câmera, em vez do sensor no solo, permite ainda detectar incidentes na via, bloqueios no cruzamento e outros comportamentos dos condutores que possam interferir na onda verde”, complementa.
Baseando-se em informações de tráfego veicular, tipo da via, quantidade e encadeamento de semáforos que existem em determinado trecho é possível avaliar em quais ruas a “onda verde” é pertinente e traçar planos semafóricos que permitam a criação do efeito. Simões alerta que só há sincronismo se os motoristas também colaborarem, já que a manutenção de velocidades constantes no perímetro da onda verde é fundamental para o sucesso do projeto. “Se os motoristas trafegarem em velocidade maior do que a regulamentada irão gerar congestionamento, pois não usarão os tempos planejados, atrapalhando a programação feita. Uma solução para disciplinar a velocidade média de tráfego, que além de contribuir com a fluidez, garante mais segurança aos condutores, é a aplicação de pardais – conhecidos como ‘radares fixos’ - ao longo da via”, aponta Simões.
Atualmente, os controladores que comandam os semáforos têm a opção para trabalhar de forma coordenada entre si, permitindo a “onda verde”, afirma o engenheiro de trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET/SP), Luis Molist Vilanova. Para isso, os controladores devem estar vinculados, o tempo de ciclo precisa ser o mesmo nos dois cruzamentos e a via não pode operar no regime congestionado. “Garantidas essas três condições, o técnico pode programar uma defasagem entre a abertura, ou entre o fechamento, dos verdes nos dois semáforos que otimize a passagem do fluxo de veículos por ambos”, explica. Entretanto, existem fatores que prejudicam e até inviabilizam a “onda verde”, mesmo com essas três requisitos atendidos.
Existe uma dificuldade natural em obter a “onda verde” quando o trecho em questão for mão-dupla. O engenheiro esclarece que, geralmente, quanto mais se beneficia a sincronização para um sentido, mais se prejudica a do sentido oposto. “Não se trata de ter um equipamento melhor, ou contar com um técnico mais qualificado. É uma questão matemática. Para se ter uma ideia dessa dificuldade, a coordenação perfeita para os dois sentidos só é possível quando o tempo de ciclo for igual ao dobro do tempo de percurso entre os semáforos, condição quase impossível de se obter na prática”, avalia Vilanova.
Onda Verde X Segurança
Uma questão que merece cuidado é a relação entre a busca pela “onda verde” e a segurança viária. Vilanova comenta que acontecem situações em que o semáforo da frente abre no instante em que os veículos vindos do cruzamento anterior estão quase chegando. O resultado é que o motorista acelera colocando em risco os pedestres que estavam terminando sua travessia, ou os veículos da transversal, que passaram no amarelo.
A recomendação é programar os semáforos de forma que o início do verde do sinaleiro da frente ocorra quando os primeiros veículos que se acercam do bloco se encontrem a aproximadamente 50 metros. “É mais seguro considerar essa distância ou forçá-los a parar no vermelho, nem que seja por poucos segundos” pondera.
Em função da segurança, também é necessário garantir a sincronização semafórica para os pedestres, quando as duas travessias em análise forem próximas. Se esta distância aumenta, já não faz sentido programar sua coordenação, porque não há formação em bloco. “Um grupo de pessoas observado ao término da primeira travessia não chega compacto no início da segunda e os destinos das pessoas divergem bastante. Além disso, as velocidades dos pedestres variam. Estes fatores geram dispersão no fluxo de pedestres a ponto de não fazer mais sentido tentar programar uma onda verde para eles”, finaliza Vilanova.
Tags
NOTÍCIAS